DRENO DE SOLO (OU DRENO FRANCÊS): FUNÇÃO, EXECUÇÃO E CUIDADOS ESSENCIAIS E USO EM DIVISAS E NO INTERIOR DE EDIFICAÇÕES
- Engenheiro Rafael Luiz Mangieri

- 8 de out.
- 4 min de leitura
⚖️ Nota Técnica e de ResponsabilidadeEste conteúdo tem caráter técnico-informativo e foi elaborado com base em referências normativas e manuais de engenharia reconhecidos.Seu objetivo é orientar engenheiros, arquitetos, síndicos e demais profissionais da construção civil sobre boas práticas de drenagem de solo.O texto não substitui a análise técnica individualizada de cada caso.
INTRODUÇÃO

A drenagem adequada do solo ao redor das fundações é uma das medidas mais eficazes para prevenir infiltrações, eflorescência e danos estruturais em edificações.
Entre as soluções mais utilizadas destaca-se o dreno de solo, também conhecido como dreno francês, que consiste em um sistema de tubulações e materiais filtrantes projetado para conduzir a água subterrânea até pontos de descarte seguros, evitando pressão sobre fundações e paredes enterradas.
1. IMPORTÂNCIA DO DRENO DE SOLO
O acúmulo de água junto às fundações é uma das principais causas de umidade ascendente, manchas em rebocos, bolor e deterioração precoce de alvenarias.Além do desconforto estético, a presença constante de umidade compromete o desempenho da edificação, podendo provocar desplacamento de revestimentos, corrosão de armaduras e instabilidade localizada do solo de apoio.
Por isso, a instalação de drenos perimetrais é uma prática amplamente recomendada tanto em novas construções quanto em reformas de residências térreas, muros de arrimo e edificações em terrenos com baixa drenagem natural.
2. PLANEJAMENTO E PREPARAÇÃO DA OBRA
Antes da escavação, é indispensável:
Verificar interferências subterrâneas, como cabos, dutos de gás, rede elétrica e esgoto, consultando as concessionárias locais.
Definir o trajeto do dreno, garantindo uma inclinação mínima de 1% (1 cm/m) no fundo da vala para permitir o escoamento gravitacional da água até o ponto de descarte — que pode ser uma caixa de inspeção, poço de infiltração ou sarjeta pública.
3. ESCAVAÇÃO DA VALA
A vala deve ser aberta ao longo do perímetro da fundação, respeitando dimensões compatíveis com o tipo de solo e profundidade da fundação.Para edificações residenciais, adota-se normalmente:
Profundidade: até 1,00 m;
Largura: cerca de 0,40 m;
Altura útil drenante: em torno de 0,50 m.
O fundo deve ser regularizado e livre de elementos que possam perfurar o geotêxtil.

4. PREPARAÇÃO DA VALA
Manta Geotêxtil
Forre integralmente a vala com manta geotêxtil não tecida, deixando sobra nas laterais para fechamento posterior.
Essa manta atua como filtro, impedindo que partículas finas do solo penetrem no sistema e provoquem colmatação (entupimento).
Camada de Brita de Base
Aplique uma camada de 2 a 5 cm de brita nº 2 ou cascalho grosso no fundo da vala, servindo de base de assentamento e facilitando a percolação da água.
5. INSTALAÇÃO DO TUBO DRENANTE
Seleção do Tubo
Utilize tubo corrugado perfurado de PVC ou PEAD, com diâmetro entre 75 mm e 100 mm.
Os furos devem permitir a entrada de água sem arraste de partículas finas, conforme especificação do fabricante.
Posicionamento
Apoie o tubo sobre a camada de brita, mantendo os orifícios voltados para cima ou lateralmente (seja um “tubo-dreno”, não tem problema dos furos estarem em toda periferia do tubo). Essa disposição favorece a captação da água sem o acúmulo de sedimentos.

Conexões
Interligue os segmentos com luvas ou uniões de encaixe, garantindo estanqueidade e continuidade do sistema.
⚙️ Referência técnica: DNIT 722/2017 – Drenagem Subterrânea: Critérios de Projeto e Execução.
6. RECOBRIMENTO E FECHAMENTO

Camada Superior de Brita
Após a instalação, cubra o tubo com 10 a 15 cm de brita ou cascalho.
Encapsulamento com Geotêxtil
Dobre as bordas da manta sobre o conjunto (tubo + brita), formando um envelopamento completo que bloqueia a entrada de sedimentos.
Preenchimento Final da Vala
Recoloque o solo escavado, preferencialmente arenoso e seco, compactando em camadas.
Evite materiais argilosos ou expansivos.
7. DESTINO DA ÁGUA DRENADA

O dreno deve conduzir a água para um ponto de descarga seguro, como:
Poço de infiltração (sumidouro);
Rede pública de águas pluviais;
Área de dispersão controlada dentro do lote;
Sarjeta da via pública, desde que o escoamento não cause erosões.
💧 Atenção: É proibido o lançamento de águas drenadas em redes de esgoto sanitário, conforme a Lei Federal nº 11.445/2007 e a ABNT NBR 8160 – Sistemas Prediais de Esgoto Sanitário.
8. MANUTENÇÃO E DURABILIDADE
Embora o dreno seja um sistema passivo, recomenda-se inspeções periódicas, principalmente após chuvas intensas:
Verifique se há obstruções no ponto de saída;
Observe a vazão — se houver redução, pode haver colmatação;
Limpe periodicamente grelhas e caixas de inspeção.
🔎 Dica técnica: Para sistemas longos, preveja caixas de inspeção intermediárias a cada 10 m ou em mudanças de direção.
REFERÊNCIAS TÉCNICAS
DER/PR – Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná.
Manual de Execução de Serviços Rodoviários – Tomo II: Drenagem. Curitiba, 2023.
DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
Manual de Drenagem de Rodovias – DNIT 724/2017. Brasília, 2017.
DNIT. Manual de Drenagem Subterrânea – DNIT 722/2017. Brasília, 2017.
IAT/PR – Instituto Água e Terra. Manual de Drenagem Urbana – Versão 01. Curitiba, 2020.
OLIVEIRA, Nathalya Raquel Nobre. Estudo sobre Envoltórios Filtrantes em Drenos Subterrâneos. Instituto Tecnológico Vale, 2021.
Lei Federal nº 11.445/2007. Política Nacional de Saneamento Básico.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR 8160:1999 – Sistemas Prediais de Esgoto Sanitário – Projeto e Execução.
NBR 15575:2021 – Edificações Habitacionais – Desempenho (itens sobre estanqueidade e durabilidade de sistemas construtivos).
⚖️ Aviso LegalEste e-book tem caráter técnico-informativo e destina-se a engenheiros, arquitetos, síndicos e demais profissionais da construção civil. O conteúdo não substitui a necessidade de acompanhamento especializado em cada caso concreto. A reprodução parcial é permitida desde que citada a fonte com o link desta página.


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